22/12/12

Este País...





"Este país preocupa-me, este país dói-me. E aflige-me a apatia, aflige-me a indiferença, aflige-me o egoísmo profundo em que esta sociedade vive. De vez em quando, como somos um povo de fogos de palha, ardemos muito, mas queimamos depressa."
 
 
*


"Mas a realidade é esta: não temos um projecto de país. Vivemos ao deus-dará, conforme o lado de que o vento sopra. As pessoas já não pensam só no dia-a-dia, pensam no minuto a minuto. Estamos endividados até às orelhas e fazemos uma falsa vida de prosperidade. Aparência, aparência, aparência - e nada por trás. Onde estão as ideias? Onde está uma ideia de futuro para Portugal? Como vamos viver quando se acabarem os dinheiros da Europa? Os governos todos navegam à vista da costa e parece que ninguém quer pensar nisto, ninguém ousa ir mais além."

José Saramago

 

01/12/12




Não mais, Musa, não mais, que a Lira tenho
Destemperada e voz enrouquecida,
E não do canto, mas de ver que venho
Cantar a gente surda e endurecida.
O favor com que mais se acende o engenho
Não no dá a pátria, não, que está metida
No gosto da cobiça e na rudeza
De uma austera, apagada e vil tristeza.


Luís de Camões

12/09/12

No País dos Sacanas




Que adianta dizer-se que é um país de sacanas?
Todos o são, mesmo os melhores, às suas horas
E todos estão contentes de se saberem sacanas.
Não há mesmo melhor do que uma sacanice
Para fazer funcionar fraternamente
A humidade da próstata ou das glândulas lacrimais,
Para além da rivalidade, invejas e mesquinharias
Em que tanto se dividem e afinal se irmanam.

Dizer-se que é de heróis e santos o país,
E ver se se convertem e puxam para cima as calças?
Para quê, se toda a gente sabe que só asnos,
Ingénuos e sacaneados é que foram disso?

Não, o melhor seria aguentar, fazendo que se ignora.
Mas claro que logo todos pensam que isto é o cúmulo da sacanice,
Porque no país dos sacanas, ninguém pode entender
Que a nobreza, a dignidade, a independência,
a Justiça, a bondade, etc., etc., sejam
Outra coisa que não patifaria de sacanas refinados
A um ponto que os mais não capazes de atingir.
.
No país dos sacanas, ser sacana e meio?
Não, que toda a gente já é pelo menos dois.
Como ser-se então neste país? Não ser-se?
Ser ou não ser, eis a questão, dir-se-ia.
Mas isso foi no teatro, e o gajo morreu na mesma.
 
Jorge de Sena
 

24/07/12





A Santa Paciência, país, a tua padroeira,
já perde a paciência à nossa cabeceira.
                         
                        [...]

Que Santa Sulipanta nos conforte
na má vida, país, na boa morte!



Alexandre O'Neill
'O País Relativo'

31/03/12

Garrett 2012




"Pátria!... não temos pátria...
Oh não há para nós tão doce nome.
Grilhões, escravos, cárceres e algozes,
De quanto outrora fomos
Isto só nos restou, só isto somos."



Garrett

29/03/12



Portugal

'Avivo no teu rosto o rosto que me deste,
E torno mais real o rosto que te dou.
Mostro aos olhos que não te desfigura
Quem te desfigurou.
Criatura da tua criatura,
Serás sempre o que sou.

E eu sou a liberdade dum perfil
Desenhado no mar.
Ondulo e permaneço.
Cavo, remo, imagino,
E descubro na bruma o meu destino
Que de antemão conheço:

Teimoso aventureiro da ilusão,
Surdo às razões do tempo e da fortuna,
Achar sem nunca achar o que procuro,
Exilado
Na gávea do futuro,
Mais alta ainda do que no passado.'


Miguel Torga



"O Teatro útil é aquele que faz ouvir o silêncio daqueles que foram excluídos do uso da fala na sociedade pouco igualitária em que vivemos."

M 4Theatre




"Diante de um mundo que se esforça por ser total exterioridade o teatro deve lembrar-nos 'as ruínas do interior', aquilo que, sorrateiramente, o homem é fora das convenções e códigos com que a circunstancia o aterroriza."

27/03/12

Merda para o Teatro!




"O Teatro é um grande meio de civilização mas não prospera onde a não há."
Almeida Garrett


Dia 27 de Março comemora-se o Dia Mundial do Teatro, iniciativa promovida anualmente pela UNESCO que tem por objectivo celebrar a arte teatral e a sua importância cultural na construção das sociedades.

O Teatro Plástico, aproveitando o facto de estar sediado na rua onde nasceu Almeida Garrett, irá evocar neste dia frente ao seu local de nascimento esta figura maior do Teatro português para num acto teatral público questionar a actual situação das artes e dos artistas em Portugal face à tentativa de extermínio político das artes não oficiais a que estamos a assistir e reflectir sobre o papel do Teatro e da Arte na vida pública portuguesa.

Convidamo-los a reunirem-se 27 de Março pelas 22.30h junto ao n.º 37 da Rua Dr. Barbosa de Castro no centro do Porto (junto ao Jardim da Cordoaria e ao lado da Escola Artística Árvore) para assistirem a um acto teatral que, evocando Garrett e o seu legado, pretende questionar directamente o nosso presente imediato e possível futuro.

Entrada livre - Espectáculo para todas as idades

10/10/11

In Situ II





Cá nesta Babilónia, donde mana
Matéria a quanto mal o mundo cria;
Cá onde o puro Amor não tem valia,
Que a Mãe, que manda mais, tudo profana;

Cá, onde o mal se afina e o bem se dana,
E pode mais que a honra a tirania;
Cá, onde a errada e cega Monarquia
Cuida que um nome vão a Deus engana

Cá, neste labirinto, onde a nobreza
Com esforço e saber pedindo vão
Às portas da cobiça e da vileza;

Cá neste escuro caos de confusão,
Cumprindo o curso estou da natureza.
Vê se me esquecerei de ti, Sião!

Luís de Camões

11/09/11

After Paradise




"It´s gone. It was there as long as I've been a New Yorker, but, now it's gone. [chime]

I wanted to check myself into an insane asylum, today. I can´t stop the nightmares or the daymares. I am on a plane, wrestling the highjackers to the floor. I am Superdad, saving all the children of the earth. I have dream-variations on this theme, ten to fifteen times, each day. I have been slashed with box-cutters, but I cannot be stoped. I will fly the plane to newark, and land it, ever so smothly. I will get a standing ovation from all passengers. Even the highjackers are impressed. I refuse to give my name. I am the Anonymous Superdad, a quiet hero."

Israel Horovitz
'3 Weeks After Paradise', 2001

10/09/11

Depois do Paraíso



"I lie awake for hours, later, thinking about this loss of Paradise. When I finally fall asleep, I have the dream."

Israel Horovitz
'3 Weeks After Paradise', 2001
Portuguese/European Premiere
Teatro Plástico, Porto 2001

09/08/11

London Times





"There are four features that can be used to classify violence. One, it is used either to maintain injustice or, two, to react to injustice; and three, its users are either conscious of its cause and significance or, four, uncunscious of them. Probably the cause of an act of violence is often a mixture of theses things, and this could be true for both sides of a confrontation.
These four features work in this way: the ruling class has a conscious, though false, rationale for its violence; it calls these the maintenance of law and order. At the same time, it unconsciously fears its victimes and so tends to be violent anyway. On the other side, the victims of unjust social relations may act violently to make these relations more just. Their degree of consciousness can range from workers protecting their jobs by smashing machines to a revolutionary party fighting to take over a whole country. Or finally, they may merely react violently because of an unconscious motive, an unidentified discontent. When this happens their victims may be innocent - indeed they may be chosen for them by the ruling class, as sometimes happens in racialism. [In some respects the young murderers in 'Saved' belong to these group. Some of their cries while they murder the baby are ruling class slogans.] This is the way in which working-class anger and agression can be used to strengthen the unjust social relations that cause its anger and aggression, and the ruling class can recreate, in an increasingly inhumane form, the social conditions which it claims as the justification for its power."

Edward Bond
'On Violence'

25/07/11

In Situ - In Transit II



'There is no escape from yesterday because yesterday has deformed us or been deformed by us. The mood is of no importance. Deformation has taken place...
We are not merely more weary because of yesterday. We are other, no longer what we were before the calamity of yesterday.'

Beckett, "Proust"

04/06/11

Pátria



"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias; Um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai;

Uma grande parte da burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (!) na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos [...]

A Justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, [...] vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero;

Liberdade absoluta, neutralizada por uma desigualdade revoltante - o direito garantido virtualmente na lei, posto, de facto, à mercê dum compadrio de batoteiros, sendo vedado aos mais orgulhosos e mais fortes abrir caminho nesta porcaria sem recorrer à influência tirânica e degradante de qualquer dos bandos partidários;"

Guerra Junqueiro
in "Pátria"
Chardron, Porto, 1896

26/05/11

Portugal





Ó Portugal, se fosses só três sílabas,
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
surdo e miudinho,
moinho a braços com um vento
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,
se fosses só o sal, o sol, o sul,
o ladino pardal,
o manso boi coloquial,
a rechinante sardinha,
a desancada varina,
o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,
a muda queixa amendoada
duns olhos pestanítidos,
se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,
o ferrugento cão asmático das praias,
o grilo engaiolado, a grila no lábio,
o calendário na parede, o emblema na lapela,
ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!

*

Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,
rendeiras de Viana, toureiros da Golegã,
não há «papo-de-anjo» que seja o meu derriço,
galo que cante a cores na minha prateleira,
alvura arrendada para o meu devaneio,
bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.
Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado,
feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós...


Alexandre O'Neill
'Feira Cabisbaixa'
Uliseia, Lisboa,1965

04/05/11

Theatre - Museum Colloquy





"Liberty is always one central question when relating museums and theatre. In the theatre audience has the ilusion of freedom because the performance is developing in front of them in real time and one can interact and eventualy change it.
Museums deal with static objects under a controled and guarded environment but the spectator is free to make is personal path and dicide with things he wants to see.
When we combine this two universes we are multiplying the possibitities of interaction and focusing on the spectator as the key element in all artistic experience."

03/05/11

Osama Vs. Obama



"Happily, the few cannot disguise the bad times through which we are all going. Word is spreading that America is now falling behind in the civilisation sweepstakes. So isn't it time to discuss what we all really think about our social and economic arrangements?"

Gore Vidal, "The End of Liberty", September 2001

29/04/11

Royal Wedlock, a final stanza



"Will Will live to such a tragic fate?
A murdered mother and no right to hate -
A duty to country and to Diana, the late."



['Not Hamlet' Act I]

28/04/11

Theatre - Museum Colloquy







"The impredictability of the Theatre and its live and irreproducible nature are magnified and it's possibilities expanded to new limits when we put the theatrical performance in the context of a museum were disturbance is not allowed and even Time seems to stand still."
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

Páginas