22/12/09

After Sam



"Since you have gone all is the same
The world’s at war, no one to blame
The Gods are dead, we have no aim
The same old noise and still no name

still

Without you nothing's quite the same
We had your voice, now have no claim"

14/12/09

Pessoa e o anticlericalismo



O iluminado júri do jornal expresso acabou de atribuir o prémio Pessoa 2009 ao bispo do Porto, Manuel Clemente!

E assim, de uma assentada, se desacreditou o mais valioso prémio português e, sobretudo, se insulta a memória de Fernando Pessoa que este prémio supostamente pretende homenagear!

Pessoa revela em toda a sua obra uma profunda espiritualidade e interesse por todas as formas de relacionamento com o mistério da existência humana e cada heterónimo representa uma faceta das múltiplas formas e possibilidades de relacionamento com o sagrado. No entanto a caracteristica fundamental do seu complexo pensamento e que a multiplicidade de visões da heteronímia confirma é a recusa intransigente de qualquer dogmatismo, estando por isso nos antípodas de qualquer religião oficial, a que sempre se opôs.

Como escreveu na sua (célebre?) nota biográfica de 30 de Março de 1935, Fernando Pessoa considerava-se: "Cristão gnóstico e portanto inteiramente oposto a todas as igrejas organizadas e, sobretudo, à igreja de Roma."

Sobre Fátima escreveu também em 1935: ”(...) Há em Portugal um lugar que pode concorrer e vantajosamente com Lourdes. Há curas maravilhosas, a preços mais em conta. O negócio da religião a retalho, no que diz respeito à Loja de Fátima, tem tomado grande incremento, com manifesto gaudio místico da parte dos hoteis, estalagens e outro comércio d’esses jeitos – o que, aliás, está plenamente de acordo com o Evangelho, embora os católicos não usem lê-lo – não vão eles lembrar-se de o seguir!"

Num outro texto editado por Teresa Rita Lopes em "Pessoa por conhecer - Textos para um novo mapa" escreve: "Se, como sociólogos, sabemos que qualquer civilização precisa de uma fé para viver, igualmente, como sociólogos, vemos que a fé cristã não é - ela mesma decadente - a que deve existir hoje. A sua decadência o indica. Portanto, fazemos trabalho salutar destruindo-a. Os povos construirão a fé que se lhe seguirá. D'isso não curemos nós; (...)
O papel individual é destruir; o papel social é construir. Ataquemos pois o que sabemos velho, podre e decadente. A sociedade edificará depois o que haverá de lhe seguir. Destruir implica, socialmente, construir. Destruindo o velho, damos lugar ao novo, seja ele o que for. - É por isso que, sabendo nós que, actualmente, o c[ristianismo] é o velho, o decadente, a esterilidade e o inutil - nós, conquanto não saibamos claramente, nem nitidamente prevejamos o que se lhe seguirá, temos ainda assim a consciência de que, atacando o c[ristianismo] trabalhamos pela nova fé; que desviando [?] e tirando os escombros, preparamos o terreno para o edificio novo(...)"

Outro exemplo da sua visão sobre a igreja é este poema satírico:

“Há um método infalível
Conquanto pareça incrível
De sempre ter a verdade...
É ouvir um padre ou frade.
O critério não é vário:
É sempre certo - o contrário.”

Ou ainda, pela mão de Álvaro de Campos:
“Deus é um conceito económico. À sua sombra fazem a sua burocracia metafísica os padres de todas as religiões.”

08/11/09

Excerto de um 'Excerto de Ode'




Vem, Noite antiquíssima e idêntica,
Noite Rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silêncio, Noite
Com as estrelas lantejoulas rápidas
No teu vestido franjado de Infinito.



Álvaro de Campos, 1914

07/11/09

«Tria Fata»





O destino era representado na Grécia antiga pelas Moiras, três deusas primordiais, nascidas no princípio do tempo da união de Érebo-Trevas e de Nix-Noite ou de Zeus e Témis, deusa da justiça, e que, como deusas da fatalidade, governavam o destino de deuses e homens e presidiam aos três momentos fulcrais da vida humana: nascimento; matrimónio; morte.
Estas três irmãs fiandeiras que manipulam a roda da fortuna, velam o tempo e regulam a vida e a morte, são representadas como três donzelas virgens ou três velhas solteiras:

Cloto - que tecia o fio da vida. A sua roca a girar simboliza o curso da existência;
Láquesis - que enrolava o fio, definindo a qualidade de vida que cabia a cada ser;
Átropos - que cortava o fio, definindo quando a vida que representava chegava ao fim.

Os Romanos chamaram-lhes Parcas e Tria Fata e com os nomes latinos de Nona, Décima e Morta, personificavam a mesma inevitabilidade do destino e o poder que regula a sorte de todos os homens, do nascimento à morte.

29/10/09


"Importa tão pouco o que dizemos ou não dizemos...
Velamos as horas que passam... O nosso mister é inútil como a vida..."

Fernando Pessoa, 'O Marinheiro'

25/09/09

O Marinheiro


Estreia 3 a 11 de Outubro 2009 | Teatro Helena Sá Costa, 21.30h
'The Sailor' by Fernando Pessoa | 3-11 October, Porto Portugal

08/09/09

O Marinheiro de Fernando Pessoa


Dando continuidade a um trabalho de pesquisa centrado na procura de novas formas e sentidos para o Teatro na vida urbana contemporânea e a um projecto que tem privilegiado a investigação meta-teatral, os espaços não teatrais e as formas monologadas, o Teatro Plástico apresenta “O Marinheiro” de Fernando Pessoa.

Escrita/datada de 11 e 12 de Outubro de 1913 e nunca representada em vida do autor, O Marinheiro foi a primeira obra que Fernando Pessoa publicou na Orpheu, a mítica revista do movimento modernista português. Antecipando o “drama em gente” dos heterónimos, foi com O Marinheiro e na persona de dramaturgo que o maior poeta do século XX escolheu apresentar-se perante a vanguarda do seu tempo.

Ao condensar todas as obsessões Pessoanas O Marinheiro representa uma das mais fascinantes e menos exploradas máscaras da torrencial produção do autor e apesar de ser um dos mais importantes e belos textos da história do teatro e literatura portuguesas, raramente é representado. Esta obra que na teatralidade da obra heterónima ocupa um lugar único foi, de entre mais de vinte projectos teatrais, o único texto dramático que Fernando Pessoa completou e editou em vida e acompanhou-o ao longo da sua singular e breve existência, adaptando-o até perto da morte.

Este drama estático - teatro do êxtase, corresponde na babel Pessoana à primeira fase da sua obra e à ligação aos simbolistas e ao movimento saudosista português. Inspirado manifestamente em Maeterlinck cumpre as principais coordenadas estéticas do mentor do movimento mas propõe-se, nas palavras de Pessoa, “fazer muito melhor”.

Numa dimensão para além do espaço e tempo três mulheres velam um corpo e contam-se histórias, uma história: a de um marinheiro que, náufrago numa ilha deserta, constrói para si uma realidade ficcional mais poderosa e real do que a realidade. Presas nas teias da ficção, suspensas entre passado e futuro nessa vida maior do que a vida que é a Arte, estes espectros cujas vozes se sucedem e encadeiam como numa missa coral vão tecendo um longo mantra onírico e hipnótico e construindo um rigoroso poema visual.

Na sua recusa de todas as regras básicas teatrais (acção, conflito, personagens) O marinheiro é uma obra limite e provocatória e, como verdadeira vanguarda, permanece actual. A sua complexidade e jogo de espelhos meta-teatral e o modo como subverte e condensa as regras teatrais e poéticas, permanece um fascinante desafio para qualquer criador contemporâneo.


Direcção Artística Francisco Alves | Interpretação Andrea Moisés,
Margarida Bento, Mónica Garnel, Cátia Esteves, Inês Cerqueira, Susana Otero | Movimento Joclécio Azevedo | Luz Mário Bessa | Som José Prata | Imagem Inês d’Orey | Design Tiago Morgado |Produção Teatro Plástico

Estreia 3 a 11 de Outubro 2009 | Teatro Helena Sá Costa - Rua da Escola Normal,39 Porto | Terça a Domingo 21.30h | Para maiores de 16 anos | Descontos para Estudantes, Jovens e Grupos +10 pessoas | Inf/Reservas 225 189 982/3 - 968 940 982

06/04/09

Projecto L/Lux - parte II integra-se no ciclo de trabalho sobre a iconografia e ícones contemporâneos e num percurso de pesquisa multidisciplinar sobre os espaços não-teatrais que o Teatro Plástico tem vindo a desenvolver e que se ocupa actualmente do conceito de novo nomadismo na era da globalização. Este projecto sobre a vertigem exibicionista da era da imagem apresenta uma instalação vídeo sobre a actriz Sophia Loren enquanto ícone e referência maior da mitologia e produção imagética da segunda metade do século XX.

Confrontando os princípios teatrais do efémero e transitório e tendo como referência clássica o mito de Narciso este projecto sobre a obsessão contemporânea com a imagem e o culto da celebridade apresenta a imagem da ”movie star” como metáfora para o esgotamento e a vertigem autofágica das sociedades de consumo contemporâneas e expõe o vazio e a natureza crescentemente superficial e narcisista do tempo presente.

Este “work-in-progress” a apresentar em diferentes etapas, horários e locais explora o confronto entre a singularidade e efemeridade do acto teatral e a natureza artificial e reprodutiva da imagem destacando o novo papel central que o hotel ocupa numa sociedade cada vez mais globalizada e em que os conceitos de residência, cidadania e identidade nacional estão em franca e rápida mutação.

Concepção: Francisco Alves | Montagem: Tiago Afonso | Design: Tiago Morgado | Imagem: Inês d’Orey | Produção: Teatro Plástico


Project L II is the second part of Teatro Plastico’s icons cycle, a video installation art work directed by Teatro Plástico's artistic director Francisco Alves and centred on Sophia Loren as a major XX century icon.

This work-in-progress in different parts is to be presented at different hotels around the world and questions the visual and exhibitionistic nature of contemporary society confronting the uniqueness of theatre as an ephemeral live art form with the artificial and repetitive quality of image and presents the movie star as a metaphor for contemporary consumer society.

Project L II is part of a global research work on the concepts of space and the new nomadic contemporary societies and highlights the new and centre role of the hotel in a moving and increasingly global culture were the concepts of home, residence and national and cultural identity are rapidly changing.


Direction: Francisco Alves | Editing: Tiago Afonso | Design: Tiago Morgado | Photography: Inês d’Orey | Production: Teatro Plástico
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