Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...
Fernando Pessoa
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25/04/11
14/12/09
Pessoa e o anticlericalismo

O iluminado júri do jornal expresso acabou de atribuir o prémio Pessoa 2009 ao bispo do Porto, Manuel Clemente!
E assim, de uma assentada, se desacreditou o mais valioso prémio português e, sobretudo, se insulta a memória de Fernando Pessoa que este prémio supostamente pretende homenagear!
Pessoa revela em toda a sua obra uma profunda espiritualidade e interesse por todas as formas de relacionamento com o mistério da existência humana e cada heterónimo representa uma faceta das múltiplas formas e possibilidades de relacionamento com o sagrado. No entanto a caracteristica fundamental do seu complexo pensamento e que a multiplicidade de visões da heteronímia confirma é a recusa intransigente de qualquer dogmatismo, estando por isso nos antípodas de qualquer religião oficial, a que sempre se opôs.
Como escreveu na sua (célebre?) nota biográfica de 30 de Março de 1935, Fernando Pessoa considerava-se: "Cristão gnóstico e portanto inteiramente oposto a todas as igrejas organizadas e, sobretudo, à igreja de Roma."
Sobre Fátima escreveu também em 1935: ”(...) Há em Portugal um lugar que pode concorrer e vantajosamente com Lourdes. Há curas maravilhosas, a preços mais em conta. O negócio da religião a retalho, no que diz respeito à Loja de Fátima, tem tomado grande incremento, com manifesto gaudio místico da parte dos hoteis, estalagens e outro comércio d’esses jeitos – o que, aliás, está plenamente de acordo com o Evangelho, embora os católicos não usem lê-lo – não vão eles lembrar-se de o seguir!"
Num outro texto editado por Teresa Rita Lopes em "Pessoa por conhecer - Textos para um novo mapa" escreve: "Se, como sociólogos, sabemos que qualquer civilização precisa de uma fé para viver, igualmente, como sociólogos, vemos que a fé cristã não é - ela mesma decadente - a que deve existir hoje. A sua decadência o indica. Portanto, fazemos trabalho salutar destruindo-a. Os povos construirão a fé que se lhe seguirá. D'isso não curemos nós; (...)
O papel individual é destruir; o papel social é construir. Ataquemos pois o que sabemos velho, podre e decadente. A sociedade edificará depois o que haverá de lhe seguir. Destruir implica, socialmente, construir. Destruindo o velho, damos lugar ao novo, seja ele o que for. - É por isso que, sabendo nós que, actualmente, o c[ristianismo] é o velho, o decadente, a esterilidade e o inutil - nós, conquanto não saibamos claramente, nem nitidamente prevejamos o que se lhe seguirá, temos ainda assim a consciência de que, atacando o c[ristianismo] trabalhamos pela nova fé; que desviando [?] e tirando os escombros, preparamos o terreno para o edificio novo(...)"
Outro exemplo da sua visão sobre a igreja é este poema satírico:
“Há um método infalível
Conquanto pareça incrível
De sempre ter a verdade...
É ouvir um padre ou frade.
O critério não é vário:
É sempre certo - o contrário.”
Ou ainda, pela mão de Álvaro de Campos:
“Deus é um conceito económico. À sua sombra fazem a sua burocracia metafísica os padres de todas as religiões.”
08/11/09
Excerto de um 'Excerto de Ode'
30/10/09
08/09/09
O Marinheiro de Fernando Pessoa

Dando continuidade a um trabalho de pesquisa centrado na procura de novas formas e sentidos para o Teatro na vida urbana contemporânea e a um projecto que tem privilegiado a investigação meta-teatral, os espaços não teatrais e as formas monologadas, o Teatro Plástico apresenta “O Marinheiro” de Fernando Pessoa.
Escrita/datada de 11 e 12 de Outubro de 1913 e nunca representada em vida do autor, O Marinheiro foi a primeira obra que Fernando Pessoa publicou na Orpheu, a mítica revista do movimento modernista português. Antecipando o “drama em gente” dos heterónimos, foi com O Marinheiro e na persona de dramaturgo que o maior poeta do século XX escolheu apresentar-se perante a vanguarda do seu tempo.
Ao condensar todas as obsessões Pessoanas O Marinheiro representa uma das mais fascinantes e menos exploradas máscaras da torrencial produção do autor e apesar de ser um dos mais importantes e belos textos da história do teatro e literatura portuguesas, raramente é representado. Esta obra que na teatralidade da obra heterónima ocupa um lugar único foi, de entre mais de vinte projectos teatrais, o único texto dramático que Fernando Pessoa completou e editou em vida e acompanhou-o ao longo da sua singular e breve existência, adaptando-o até perto da morte.
Este drama estático - teatro do êxtase, corresponde na babel Pessoana à primeira fase da sua obra e à ligação aos simbolistas e ao movimento saudosista português. Inspirado manifestamente em Maeterlinck cumpre as principais coordenadas estéticas do mentor do movimento mas propõe-se, nas palavras de Pessoa, “fazer muito melhor”.
Numa dimensão para além do espaço e tempo três mulheres velam um corpo e contam-se histórias, uma história: a de um marinheiro que, náufrago numa ilha deserta, constrói para si uma realidade ficcional mais poderosa e real do que a realidade. Presas nas teias da ficção, suspensas entre passado e futuro nessa vida maior do que a vida que é a Arte, estes espectros cujas vozes se sucedem e encadeiam como numa missa coral vão tecendo um longo mantra onírico e hipnótico e construindo um rigoroso poema visual.
Na sua recusa de todas as regras básicas teatrais (acção, conflito, personagens) O marinheiro é uma obra limite e provocatória e, como verdadeira vanguarda, permanece actual. A sua complexidade e jogo de espelhos meta-teatral e o modo como subverte e condensa as regras teatrais e poéticas, permanece um fascinante desafio para qualquer criador contemporâneo.
Direcção Artística Francisco Alves | Interpretação Andrea Moisés,
Margarida Bento, Mónica Garnel, Cátia Esteves, Inês Cerqueira, Susana Otero | Movimento Joclécio Azevedo | Luz Mário Bessa | Som José Prata | Imagem Inês d’Orey | Design Tiago Morgado |Produção Teatro Plástico
Estreia 3 a 11 de Outubro 2009 | Teatro Helena Sá Costa - Rua da Escola Normal,39 Porto | Terça a Domingo 21.30h | Para maiores de 16 anos | Descontos para Estudantes, Jovens e Grupos +10 pessoas | Inf/Reservas 225 189 982/3 - 968 940 982
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