08/09/09
O Marinheiro de Fernando Pessoa
Dando continuidade a um trabalho de pesquisa centrado na procura de novas formas e sentidos para o Teatro na vida urbana contemporânea e a um projecto que tem privilegiado a investigação meta-teatral, os espaços não teatrais e as formas monologadas, o Teatro Plástico apresenta “O Marinheiro” de Fernando Pessoa.
Escrita/datada de 11 e 12 de Outubro de 1913 e nunca representada em vida do autor, O Marinheiro foi a primeira obra que Fernando Pessoa publicou na Orpheu, a mítica revista do movimento modernista português. Antecipando o “drama em gente” dos heterónimos, foi com O Marinheiro e na persona de dramaturgo que o maior poeta do século XX escolheu apresentar-se perante a vanguarda do seu tempo.
Ao condensar todas as obsessões Pessoanas O Marinheiro representa uma das mais fascinantes e menos exploradas máscaras da torrencial produção do autor e apesar de ser um dos mais importantes e belos textos da história do teatro e literatura portuguesas, raramente é representado. Esta obra que na teatralidade da obra heterónima ocupa um lugar único foi, de entre mais de vinte projectos teatrais, o único texto dramático que Fernando Pessoa completou e editou em vida e acompanhou-o ao longo da sua singular e breve existência, adaptando-o até perto da morte.
Este drama estático - teatro do êxtase, corresponde na babel Pessoana à primeira fase da sua obra e à ligação aos simbolistas e ao movimento saudosista português. Inspirado manifestamente em Maeterlinck cumpre as principais coordenadas estéticas do mentor do movimento mas propõe-se, nas palavras de Pessoa, “fazer muito melhor”.
Numa dimensão para além do espaço e tempo três mulheres velam um corpo e contam-se histórias, uma história: a de um marinheiro que, náufrago numa ilha deserta, constrói para si uma realidade ficcional mais poderosa e real do que a realidade. Presas nas teias da ficção, suspensas entre passado e futuro nessa vida maior do que a vida que é a Arte, estes espectros cujas vozes se sucedem e encadeiam como numa missa coral vão tecendo um longo mantra onírico e hipnótico e construindo um rigoroso poema visual.
Na sua recusa de todas as regras básicas teatrais (acção, conflito, personagens) O marinheiro é uma obra limite e provocatória e, como verdadeira vanguarda, permanece actual. A sua complexidade e jogo de espelhos meta-teatral e o modo como subverte e condensa as regras teatrais e poéticas, permanece um fascinante desafio para qualquer criador contemporâneo.
Direcção Artística Francisco Alves | Interpretação Andrea Moisés,
Margarida Bento, Mónica Garnel, Cátia Esteves, Inês Cerqueira, Susana Otero | Movimento Joclécio Azevedo | Luz Mário Bessa | Som José Prata | Imagem Inês d’Orey | Design Tiago Morgado |Produção Teatro Plástico
Estreia 3 a 11 de Outubro 2009 | Teatro Helena Sá Costa - Rua da Escola Normal,39 Porto | Terça a Domingo 21.30h | Para maiores de 16 anos | Descontos para Estudantes, Jovens e Grupos +10 pessoas | Inf/Reservas 225 189 982/3 - 968 940 982
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Olá, tenho um blog destinado a divulgar montagens sobre desse texto, gostaria de trocar informações, imagens e divulgações deste trabalho. Fiquei muito feliz em ler este post... sou apaixonada por esse texto do Pessoa, também já participei de uma montagem. Um texto muito lindo e difícil de encenar. Nossa experiência foi maravilhosa.
ResponderEliminarEspero que possamos trocar ideias.
Obrigada. Luciana