10/10/11

In Situ II





Cá nesta Babilónia, donde mana
Matéria a quanto mal o mundo cria;
Cá onde o puro Amor não tem valia,
Que a Mãe, que manda mais, tudo profana;

Cá, onde o mal se afina e o bem se dana,
E pode mais que a honra a tirania;
Cá, onde a errada e cega Monarquia
Cuida que um nome vão a Deus engana

Cá, neste labirinto, onde a nobreza
Com esforço e saber pedindo vão
Às portas da cobiça e da vileza;

Cá neste escuro caos de confusão,
Cumprindo o curso estou da natureza.
Vê se me esquecerei de ti, Sião!

Luís de Camões

11/09/11

After Paradise




"It´s gone. It was there as long as I've been a New Yorker, but, now it's gone. [chime]

I wanted to check myself into an insane asylum, today. I can´t stop the nightmares or the daymares. I am on a plane, wrestling the highjackers to the floor. I am Superdad, saving all the children of the earth. I have dream-variations on this theme, ten to fifteen times, each day. I have been slashed with box-cutters, but I cannot be stoped. I will fly the plane to newark, and land it, ever so smothly. I will get a standing ovation from all passengers. Even the highjackers are impressed. I refuse to give my name. I am the Anonymous Superdad, a quiet hero."

Israel Horovitz
'3 Weeks After Paradise', 2001

10/09/11

Depois do Paraíso



"I lie awake for hours, later, thinking about this loss of Paradise. When I finally fall asleep, I have the dream."

Israel Horovitz
'3 Weeks After Paradise', 2001
Portuguese/European Premiere
Teatro Plástico, Porto 2001

09/08/11

London Times





"There are four features that can be used to classify violence. One, it is used either to maintain injustice or, two, to react to injustice; and three, its users are either conscious of its cause and significance or, four, uncunscious of them. Probably the cause of an act of violence is often a mixture of theses things, and this could be true for both sides of a confrontation.
These four features work in this way: the ruling class has a conscious, though false, rationale for its violence; it calls these the maintenance of law and order. At the same time, it unconsciously fears its victimes and so tends to be violent anyway. On the other side, the victims of unjust social relations may act violently to make these relations more just. Their degree of consciousness can range from workers protecting their jobs by smashing machines to a revolutionary party fighting to take over a whole country. Or finally, they may merely react violently because of an unconscious motive, an unidentified discontent. When this happens their victims may be innocent - indeed they may be chosen for them by the ruling class, as sometimes happens in racialism. [In some respects the young murderers in 'Saved' belong to these group. Some of their cries while they murder the baby are ruling class slogans.] This is the way in which working-class anger and agression can be used to strengthen the unjust social relations that cause its anger and aggression, and the ruling class can recreate, in an increasingly inhumane form, the social conditions which it claims as the justification for its power."

Edward Bond
'On Violence'

25/07/11

In Situ - In Transit II



'There is no escape from yesterday because yesterday has deformed us or been deformed by us. The mood is of no importance. Deformation has taken place...
We are not merely more weary because of yesterday. We are other, no longer what we were before the calamity of yesterday.'

Beckett, "Proust"

04/06/11

Pátria



"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias; Um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai;

Uma grande parte da burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados (!) na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos [...]

A Justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas;

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, [...] vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero;

Liberdade absoluta, neutralizada por uma desigualdade revoltante - o direito garantido virtualmente na lei, posto, de facto, à mercê dum compadrio de batoteiros, sendo vedado aos mais orgulhosos e mais fortes abrir caminho nesta porcaria sem recorrer à influência tirânica e degradante de qualquer dos bandos partidários;"

Guerra Junqueiro
in "Pátria"
Chardron, Porto, 1896

26/05/11

Portugal





Ó Portugal, se fosses só três sílabas,
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
surdo e miudinho,
moinho a braços com um vento
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,
se fosses só o sal, o sol, o sul,
o ladino pardal,
o manso boi coloquial,
a rechinante sardinha,
a desancada varina,
o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,
a muda queixa amendoada
duns olhos pestanítidos,
se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,
o ferrugento cão asmático das praias,
o grilo engaiolado, a grila no lábio,
o calendário na parede, o emblema na lapela,
ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!

*

Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,
rendeiras de Viana, toureiros da Golegã,
não há «papo-de-anjo» que seja o meu derriço,
galo que cante a cores na minha prateleira,
alvura arrendada para o meu devaneio,
bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.
Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado,
feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós...


Alexandre O'Neill
'Feira Cabisbaixa'
Uliseia, Lisboa,1965

04/05/11

Theatre - Museum Colloquy





"Liberty is always one central question when relating museums and theatre. In the theatre audience has the ilusion of freedom because the performance is developing in front of them in real time and one can interact and eventualy change it.
Museums deal with static objects under a controled and guarded environment but the spectator is free to make is personal path and dicide with things he wants to see.
When we combine this two universes we are multiplying the possibitities of interaction and focusing on the spectator as the key element in all artistic experience."

03/05/11

Osama Vs. Obama



"Happily, the few cannot disguise the bad times through which we are all going. Word is spreading that America is now falling behind in the civilisation sweepstakes. So isn't it time to discuss what we all really think about our social and economic arrangements?"

Gore Vidal, "The End of Liberty", September 2001

29/04/11

Royal Wedlock, a final stanza



"Will Will live to such a tragic fate?
A murdered mother and no right to hate -
A duty to country and to Diana, the late."



['Not Hamlet' Act I]

28/04/11

Theatre - Museum Colloquy







"The impredictability of the Theatre and its live and irreproducible nature are magnified and it's possibilities expanded to new limits when we put the theatrical performance in the context of a museum were disturbance is not allowed and even Time seems to stand still."


"We feel safe in museums, everything in them relates to organization and tranquility and our place in a rational world.
We go to the theatre to lose control and get in touch with our innermost fears and basic impulses."

25/04/11

Liberdade

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.
O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa

22/04/11

Chernobyl Now












Many of us have one great advantage: we were born outside the nuclear age and we should use that. No one else will have this advantage. The advantage is that it enables us to use our will without the compulsions of modern technology forcing our hands. If we don´t abolish nuclear weapons now it will become increasingly harder for our children to abolish them: they will have accepted them into their societies in a way without the shock - or the venomous triumph - with which we had to relate to them.

Edward Bond, 14 May 1987

Fokushima Time




21/04/11

Theatre - Museum Colloquy






"Museums are popular because they represent the security of knowledge, beauty and truth and the power of the State.
As the modern spulchres of the past they are viewed as houses of perfection.

Theatre is the most imperfect of all arts, always to be finished and to be done. A short ephemeral act that operates by lies in order to tell it's truth."

17/04/11

Theatre - Museum Colloquy


"O Museu e o Teatro são as principais casas de sonho do colectivo"

"Museum & Theatre are the principal dream houses of the collective"


"The Museum and the Theatre seem opposite and antagonic worlds but they share the same vital concern with Time and Memory"
Theatre - Museum Colloquy | Porto 27. 03. 2011

24/03/11

Colóquio Teatro - Museu



A propósito do projecto ‘In Situ – In Transit’ realizado pelo Teatro Plástico em residência artística no Museu Nacional de Soares dos Reis em Novembro e Dezembro passado, será apresentado a 27 de Março – dia Mundial do Teatro – no Auditório do Museu Soares dos Reis um colóquio subordinado ao tema ‘Teatro – Museu’.

Este colóquio organizado em dois painéis (Teatro – Museu e In Situ – In Transit) tem por objectivo pensar as relações entre duas realidades aparentemente antagónicas mas que permitem muitas aproximações quer formais quer conceptuais e pretende sintetizar algumas das questões-chave que este projecto site-specific pioneiro propunha, nomeadamente: a relação entre espaço e obra, memória e realidade, passado e presente, legado artístico e construção de futuro.

Este diálogo entre dois universos opostos que representam, nas palavras de Walter Benjamin, “as principais casas de sonho do colectivo” permite o confronto entre Museu para além do espaço estático e símbolo do perene que habitualmente lhe está associado e do Teatro para além da arte do efémero e símbolo do presente imediato e, sobretudo, permite repensar as novas possibilidades e novas funções dos museus e do Teatro nas sociedades contemporâneas.

Moderadores: Maria João Vasconcelos - Francisco Alves

1º painel - Teatro/Museu
[João Fernandes - José Carlos Alvarez - José Luís Porfírio]

2º painel - In Situ - In Transit
[Albuquerque Mendes - Carlos França - João Paulo Costa - Mário Bessa]

Programa
15h - Apresentação e balanço do projecto 'In Situ - Transit'
15.30h - Slideshow de Inês d'Orey e Vídeo de Tiago Afonso
16h - Comunicações - 1º Painel
17.30h - Pausa
18h - Comunicações - 2º Painel
18.30h - Debate Final
20h - Encerramento

[Entrada livre até ao limite da lotação do Auditório MNSR]








01/02/11

'Beckett: O Quê - Onde'


Com ‘Beckett: O Quê – Onde’ o Teatro Plástico dá continuidade ao ciclo de trabalho que tem vindo a dedicar a este incontornável mestre do Teatro contemporâneo e que teve início com o ciclo de três espectáculos dedicados a ”Eu Não” e a encenação, também no Teatro Helena Sá e Costa, de “Catástrofe”.

Este espectáculo construido a partir de textos de diferentes géneros e fases pretende abordar o universo Beckettiano na sua múltipla dimensão teatral, poética e audiovisual e enquanto território físico e mental que marcou indelevelmente todas as áreas da cultura contemporânea e permanece fundamental para definirmos a nossa noção de realidade e humanidade.

Habitado por opressores e oprimidos; vagabundos e miseráveis; cegos e paralíticos; dementes e alienados; o desolado mundo de Beckett alberga uma impressionante galeria de seres diminuídos e incompletos, criaturas que, no seu desesperado limite tragicómico e ausência de saída, espelham a fragilidade e absurda falta de sentido da existência humana mas também a nossa misteriosa resistência e persistência em continuar.

Condenados à repetição da espera e progressivamente reduzidos nas suas capacidades expressivas até à condição última de espectros, estes seres falantes, lançados no vazio da existência tal como o Homem num remoto planeta na periferia da imensidão do universo, devolvem-nos o essencial do projecto humano e a eterna luta da Humanidade para dar sentido e sobreviver num meio hostil e absurdo.

Mas este universo sombrio e ameaçador é, paradoxalmente, habitado pelo mais extraordinário e feroz riso do teatro contemporâneo e na ilustre tradição dos grandes humoristas Irlandeses o genial talento cómico de Beckett permite-nos um dos prazeres que resta à humanidade para preencher a dor da existencia e o vazio da espera: rir.
Rir desalmada e perdidamente de tudo o que nos atormenta, diminui e intimida - sobretudo da morte.


Autor: Samuel Beckett

Direcção artística: Francisco Alves

Com: Mário Santos, André Amálio, Viriato Morais, Eurico Santos
Voz off: António Durães

Luz: Mário Bessa | Som: José Prata | Vídeo: Tiago Afonso | Foto: Inês d’Orey | Design: Tiago Morgado | Produção executiva: Carolina Losa e Juliana Alexandria | Produção: Teatro Plástico
[Estrutura financiada pelo Ministério da Cultura/DGArtes]

Estreia 5 a 13 de Fevereiro 2011 - Terça a Domingo 21,30h
Teatro Helena Sá e Costa - Rua da Escola Normal,39 - Porto
Informações/Reservas: Tel: 225 189 982/3 Fax: 225 189 984
Maiores de 16 anos | Descontos: estudantes - cartão jovem - grupos
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